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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Julgamento e decretos na vida dos outros

Esse artigo tem como tema o julgamento, o decreto e o estabelecimento de penas para os cristãos, por aqueles que deveriam simplesmente aconselhar e apoiar os irmãos em Cristo Jesus, principalmente no que diz respeito ao repúdio, ao divórcio e ao novo casamento. 
O homem tem o mau hábito de julgar e decretar nas vidas dos outros semelhantes, assumindo assim o papel de Deus. Pensam que podem saber, por exemplo, se o relacionamento de um irmão(ã) com sua(eu) pretendida(a), vai dar certo. Não se contentam em aconselhar e impõem as suas conclusões e ordens, como faria um ditador, dizendo que é a vontade de Deus. Caso o irmão insista, em muitos casos, ele é praticamente expulso da congregação, pois sofre uma espécie de discriminação, culminando, quase sempre, na sua saída do grupo, muitas vezes abandonando até a fé. O que esses "juízes" não entendem é que nosso Deus é um Deus pessoal e trata dos problemas de cada um personalizadamente. Cada caso é um caso. Para demonstrar mais claramente o que digo, apresento um caso bíblico que ilustra perfeitamente isso. Os fariseus trouxeram, à presença de Jesus, uma mulher flagrada em adultério. A lei vigente na época, dizia que a mulher deveria ser apedrejada até a morte (onde estava o homem que adulterou com ela, para ser apedrejado?). O que fez Jesus? Depois de escrever algo no chão e de ser novamente inquirido, disse que quem não tivesse pecado algum que atirasse a primeira pedra. O único que poderia apedrejar a mulher, porque não tinha pecados, era Jesus. Mas ali não ficou um sequer para condená-la e Jesus disse-lhe que ele também não o faria. Despachou-a então, aconselhando-a que não pecasse mais. 

Poderia se entender facilmente que Jesus não cumpriu a lei. Os fariseus diziam isso, que Jeus não se importava com a lei. Todos sabemos, na verdade, que Jesus cumpriu toda a lei. Só ele poderia fazer isso, pois não possuía a semente pecaminosa de Adão. Esses fariseus adulteravam em segredo, utilizavam-se do "serviço" das prostitutas e adúlteras, mas colocavam um jugo, um fardo sobre as pessoas, que eles mesmos não podiam suportar e carregar. Como poderiam, então, julgar e condenar alguém a MORTE por não cumprir a lei? Guardem bem isso e liguem ao que será exposto logo abaixo. Isso acontece todos os dias na atualidade. As pessoas, baseadas na lei, no caso na bíblia, decretam e MATAM seu irmão em Cristo, através das suas imposições como se tivessem o poder de ver o futuro do que estão julgando e decretando. Deus é onisciente e só Ele tem o poder de julgar. "Graças à Deus" que isso não é uma atribuição nossa. Temos que entender e viver isso, mas contrariamente, o homem deseja o poder sobre a vida das demais pessoas e segue julgando, condenando e estabelecendo as penas. Casos semelhantes estão por toda a bíblia, por exemplo: A mulher samaritana (Jo 4:16-18). Ela teve cinco maridos e aquele com quem ela estava não era seu marido. Jesus a condenou? Jesus falou a respeito, mas essa mulher serviu de instrumento para que muitas pessoas cressem que Ele era o Messias. Jesus não a apedrejou ou a amaldiçoou, muito pelo contrário, ela serviu aos seus propósitos. Foi benção. Moisés também teve seus problemas. Era marido de Zípora, mulher cuxita-Etíope, motivo pela qual Arão e Miriã falaram contra Moisés. A lei dizia que as pessoas não podiam casar-se com estrangeiros. Além disso, Moisés teve mais de uma esposa. Como Moisés pôde? Deus deixou de usar Moisés por isso? Deus o amaldiçoou? Ele perdeu o respeito e a honra que seu povo lhe prestava? Claro que não!

Muitos judeus eram polígamos. Repudiavam suas mulheres facilmente, como exemplo, apenas por elas queimarem a comida ou caso achassem que outra era mais formosa. Havia discussões entre os rabinos, sobre isso. O tema repúdio e divórcio era muito controverso. Repúdio em hebraico é shalach. Divórcio é keriythuwth. São coisas diferentes e foram diferentemente tratadas na bíblia. Os homens muitas vezes repudiavam sua mulher, situação pela lei, que não permitia que elas casassem novamente. Esses homens, de maneira cruel, não lhes davam a carta de divórcio, tornando-as assim inaptas para um novo casamento, pois estariam em pecado. Deus abomina o repudio, pois as mulheres ficavam numa situação terrível, marginalizadas, muitas vezes jogadas a mendicância. Para entender, veja o que diz em Deuteronômio:
“Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de repúdio, e lha dará na sua mão, e a despedirá da sua casa. Se ela, pois, saindo da sua casa, for e se casar com outro homem, e este também a desprezar, e lhe fizer carta de repúdio, e lha der na sua mão, e a despedir da sua casa, ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer, então seu primeiro marido, que a despediu, não poderá tornar a tomá-la, para que seja sua mulher, depois que foi contaminada; pois é abominação perante o Senhor; assim não farás pecar a terra que o Senhor teu Deus te dá por herança." (Dt 24:1-4)
Assim esse homem não poderia mais voltar para essa mulher. Os fariseus perguntaram a Jesus sobre esse assunto: 
"E, aproximando-se dele os fariseus, perguntaram-lhe, tentando-o: É lícito ao homem repudiar sua mulher? Mas ele, respondendo, disse-lhes: Que vos mandou Moisés? E eles disseram: Moisés permitiu escrever carta de divórcio e repudiar. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Pela dureza dos vossos corações vos deixou ele escrito esse mandamento;"(Mc 10:2-5). Disse Jesus ainda aos apóstolos, quando foi novamente inquirido: "E em casa tornaram os discípulos a interrogá-lo acerca disto mesmo. E ele lhes disse: Qualquer que deixar a sua mulher e casar com outra, adultera contra ela. E, se a mulher deixar a seu marido, e casar com outro, adultera. (Mc 10:10-12)
Jesus, que vivia no tempo da lei, deu um fim nisso ao dizer:
"Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de fornicação, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério.
Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos ao Senhor."
(Mt 5:31-33)
Quem julgará isso? O Senhor e somente Ele.

Quando esses irmãos forem para o aconselhamento, os conselheiros devem lembrar desse episódio da vida de Jesus Cristo (da mulher adúltera) e se perguntar: o que fariam os fariseus nesse caso? mas o mais importante: o que faria e diria Jesus Cristo à esse irmão? Lembrando-nos do que disse o apóstolo Paulo, que a letra mata, mas o espírito vivifica (2Co 3:6). Vivemos hoje na Graça, na Nova aliança, temos o Espírito Santo de Deus, ou seja, o próprio Deus morando em nós e que nos orienta.

Devemos desobedecer a Lei? Jesus desobedeceu a lei não apedrejando a mulher adúltera? Os fariseus entendiam que sim. Quando julgamos e decretamos na vida das pessoas, as estamos MATANDO, pois não temos condições de discernir o futuro de ninguém. Poderemos estar errando feio e conduzindo essa pessoa a uma vida de maldição, separando-a das benção que Deus lhes havia preparado e o pior: tornando-a estéril na sua vida pessoal e ministerial. Queremos carregar essa culpa? O que preocupa, é que tudo é feito em nome do Senhor, como terrivelmente fizeram (e ainda fazem) muitos homens no decorrer da história, com suas atrocidades para com seus semelhantes. Podemos, realmente, saber o que é melhor para os outros? Somos tão mais espiritualizados do que o irmão em Cristo? Somos melhores do que ele? Só nós temos o discernimento do Espírito? Só nós temos a unção? Claro que não! 

Nosso papel é aconselhar, porque vivemos também na carne, sujeitos ao erros, enganos, enfim, sujeitos ao pecado. Além de vivermos sob a influencia da carne e de sofrermos as influências da carne dos outros (as situações a que somos expostos pelas outras pessoas), vivemos num mundo dominado pelo mal. Somos separados, mas ainda sujeitos a influência da carne. A carne milita contra o espírito. Como podemos ir além dos conselhos? Se a pessoa é de Cristo, ela tem o Espírito Santo de Deus que nela habita. Não será Ele o suficiente para falar com o irmão? 

Temos que incentivar o irmão a fortalecer-se na fé, orar, ter comunhão, intimidade com Deus, para que assim ele possa ouví-Lo a respeito da situação específica e ter a solução necessária. Isso vale para tudo e para sempre.

Na prática vemos que muitos relacionamentos que foram devidamente "avalizados" pelos líderes religiosos e suas congregações, e feitos no "Senhor", deram muito errado. Então, automaticamente, temos que pensar no outro lado da situação. E aqueles relacionamentos que foram julgados pelos mesmos líderes, desaprovados, considerados errados, sem futuro, fora da vontade de Deus, e que impediram os irmãos de continuarem se conhecendo e de se casarem? Muitos desses nem se trata de casais divorciados, mas sim de pessoas que colocaram sob avaliação dos seus líderes religiosos a pessoa com quem estavam orando para se relacionarem. Quem garante que não poderia ter dado certo? Quem garante que esses líderes não erraram e impediram as bençãos de Deus? Será que Deus concordará com o julgamento que fizeram? Todo homem que julga será julgado da mesma forma que julgou. Sabemos que somente Deus julga corretamente, sendo assim, estaremos sempre na desvantagem, errando em algum ponto e tendo que prestar contas dos nossos julgamentos. 

Afinal a vida que mora em nós é de Deus e não do homem para que possamos entregar nossos destinos nas suas mãos. Jonas não queria pregar em Nínive pois sabia da misericórdia de Deus e que Ele lhes daria nova chance. Mas Jonas não gostava do povo de Nínive e queria condená-los. Queria de descesse fogo do céu e os consumisse. Mas Deus é amor e mesmo para aquele povo pecador deu a possibilidade de salvação, pela sua misericórdia. Deus é o único que pode julgar e condenar, mas mesmo assim não o faz, veja o que fez Jesus no caso da mulher adúltera. Não será o exemplo de Jesus Cristo o suficiente? Vamos ainda querer sair mandando "a torto e a direito" na vida dos outros, como se soubéssemos administrar perfeitamente a nossa?

Hoje, nas congregações, muitos pastores não acham explicação quando seus filhos, casados no Senhor, acabam se separando e se divorciando. O que fazer nessa situação? Tratam-se de jovens que tem uma vida inteira pela frente. Segundo a bíblia, não poderiam mais casar e teriam que viver sozinhos o resto de suas vidas. Os pais, pastores, fazem vista grossa e tocam a vida em frente, pois não tem uma solução bíblica para isso. Será mesmo? Todo pastor, que não é o pai dos desses jovens, de fora desta situação, certamente decretará: Não poderá se casar novamente! Colocam imediatamente, as pessoas debaixo de maldição, sua maldição. Pergunto: O que Jesus Cristo, pessoalmente, diria? Apedrejaria? Amaldiçoaria. Onde está a vida plena e abundante que Ele nos prometeu? Só no reino espiritual? Para não ficar nessa situação, esses jovens acabam se apartando das congregações e muitas vezes da própria fé. Deixando de frutificar em todos os aspectos. As congregações abandonam essas pessoas com seus pecados. É isso que Deus quer? Será essa a vontade de Deus? Nessa hora é que esses jovens deveriam se fortalecer e permanecer, ainda mais na fé. Muitos dizem que essas pessoas separadas, divorciadas, deveriam somente servir ao Senhor. Mas e os dons necessários? Alguém poderá dizer: O Senhor dará os dons a esta pessoa e ela deverá serví-lo, exclusivamente. Notem os julgamentos e decretos que os homens fazem. Muitos poderão ainda dizer, a felicidade aqui não importa, é melhor vocês "plantarem" os tesouros no céu, ou seja, já que se divorciaram, devem viver uma vida sozinhos aqui, para ter o seus galardões no céu! Não acham isso meio parecido com o islã? Só falta dizer que a pessoa deve sacrificar sua vida, num ataque kamikase, aos políticos de Brasilia, pois é a vontade de Deus, e lá no paraíso 72 virgens o estarão esperando (e as mulheres como ficam no paraiso?). O que alegam está perto disso, que não é o que Jesus disse à Igreja de Laodiceia, pois eles deveriam comprar o verdadeiro ouro refinado pelo fogo do Senhor. Também nos foi dito que não imaginamos as coisas que Deus tem preparado para aqueles que o amam.

Será a separação, divórcio e novo casamento, um fator determinante para mandar alguém para a Geena (inferno)? Pergunto-lhes então, onde fica a Graça imerecida? Será que pelas minhas ações serei mais digno do que outro? Será que um homem que não teve o aval dos seus pastores, mas saiu da congregação, casou-se noutra, e vive uma vida abençoada, é menos digno do que aquele que casou com o aval, frequenta a referida congregação, mas vive adulterando e maltratando sua esposa  (falsa submissão) e filhos. Serei escolhido pelo que faço ou sou escolhido pela soberania e Graça de Deus? Ou será que a Graça imerecida é somente para obras e não situações da vida, como no exemplo em tela? A resposta é obvia. Não há o que possamos fazer para receber a salvação do Senhor. É graça imerecida. Ninguém merece. Somos todos pecadores. Será que Deus, misericordioso, que perdoa um terrível assassino, não perdoará alguém que errou no seu casamento, ou qualquer outro pecado? Se houver reconhecimento e arrependimento, verdadeiro, do pecado, o Senhor perdoará, pois Ele conhece o nosso coração. Jesus disse que estava tudo consumado. Morreu pelos nossos pecados. Não adianta tentar enganar à Deus. Quem nos acusa todos os dias é o diabo, não Deus. 

Certamente muitos poderão pensar que ao dizer estas coisas sou a favor da separação e do divórcio, contrariando a palavra de Deus, e indo contra o que parece estar muito claro na bíblia. Digo: muito pelo contrário. Sabemos muito bem dos estragos causados por separações e divórcios. Conhecemos a dor dos filhos e os problemas que eles enfrentam por causa disso. Digo nós, porque Eu e minha esposa trabalhamos para a manutenção saudável das famílias, baseados exclusivamente nas verdades bíblicas. O casal e a família devem ser mantidos por todos os meios santos.  Muitas vezes acontece o impossível e ocorrem muitas restaurações milagrosas, de famílias já muito desgastadas. O que não se pode, é fugir de situações para as quais não temos uma resposta satisfatória e fazermos vista grossa para isso, abandonando aqueles que necessitam de apoio. Independentemente da situação temos que estar firmes no Senhor, não abandoná-lo, pois Ele jamais nos abandona.

Será que Jesus terá que descer do céu, e dizer pessoalmente, que novamente estamos interpretando tudo errado, como faziam os fariseus? 
Muitos julgam e condenam seus semelhantes, mas quando acontece na sua casa, o julgamento é outro. Para sua casa sempre há uma nova chance, mas para os outros é a dura lei. Cuidado!

Não quero julgar ninguém, não é atribuição minha. Esse artigo é uma admoestação e não um julgamento a quem quer que seja.

Fiquemos todos na Paz, que excede todo o entendimento, 
do Nosso Senhor Jesus Cristo de Nazaré.



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